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domingo, 14 de outubro de 2012

Angela 17



Olá meu nome é Ângela, tenho dezessete anos.
Estamos no final dos anos 80. Ainda não completei meus estudos e faculdade ainda é um objetivo distante.
Meus pais não são ruins, sou filha única e eles confiam em meu “juízo”.
Recentemente descobri como é bom namorar. Conheci o Carlos.
No condomínio onde moro tem muita diversão, sala de jogos, piscina e amigos de montão.
Não posso reclamar da vida. Sou clara,baixa,cabelos curtos, feliz com minha aparência.
Gosto de participar das rodas onde cantamos ao som do violão, contamos piadas noite adentro. Dançamos de rosto colado... Dentro do espaço do condomínio.
Meu namoro com o Carlos está indo do jeito que deve ser. Afinal temos 17 anos.O mundo é nosso!Aqui não existe AIDS.Confiamos um no outro.É ,também não usamos camisinha...
E não penso em gravidez, comigo não vai acontecer.
Um dia amanheci enjoada, comi algo que não fez bem. N a escola senti uma tontura .Calor demais.Mal estar esquecido ,a vida continuou.
Começou novo mês, percebi que não havia usado o absorvente... pacote fechado ainda.
Tentei falar com o Carlos que depois de três meses de namoro estava estranho. Percebi que andava dando atenção demais a outra garota...desisti.
E veio outro mês e nada de precisar abrir certo pacote fechado. O Carlos já era passado .
Entendi de repente. Estava grávida.Eu não poderia assumir isso.Com uma informação ali outra acolá,descobri que podia parar aquilo.Ninguém ia descobrir e tudo seria esquecido.Comprei o tal remédio.Escolhi o dia e pensei.Amanha estarei livre desse pesadelo.Remédio tomado,agora era esperar.Acordei gritando no meio da noite,alguém estava enfiando agulhas no meu ventre!!
Dor horrível meus pais desesperados sem saber a causa. No hospital não fui acarinhada,fui medicada com olhares de desprezo.Ouvi alguém dizer que agora eu não iria precisar assassinar ninguém mais.Entendi enfim deitada naquela mesa fria.Eu havia matado o meu filho!
Não existia, mas a menina de dezessete. Ela se despediu na hora que engoli aquele remédio.
Fiquei livrei. Ninguém me condenou,afinal era só uma menina...o Carlos nem apareceu para saber se eu estava bem...afinal era só um menino...
Segui minha vida com esse fardo de culpa na bagagem. Trinta anos se passaram.Eu nunca mais me preocupei em decidir sobre a vida de nenhum inocente.
Sempre que chega a data em que meu filho estaria aniversariando eu me recordo. Choro.
Hoje estaria fazendo 30 anos. Talvez tivesse irmãos ou seria único....Por que minha dúvida?Porque fiquei estéril naquela mesa fria.

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